Questão 05

Avaliação:

Instrução: As questões de números 01 a 05 tomam por base o seguinte fragmento do diálogo Fedro, de Platão (427-347 a.C.).


Fedro

SÓCRATES: – Vamos então refletir sobre o que há pouco
estávamos discutindo; examinaremos o que seja recitar ou escrever
bem um discurso, e o que seja recitar ou escrever mal.
FEDRO: – Isso mesmo.
SÓCRATES: – Pois bem: não é necessário que o orador
esteja bem instruído e realmente informado sobre a verdade
do assunto de que vai tratar?
FEDRO: – A esse respeito, Sócrates, ouvi o seguinte: para
quem quer tornar-se orador consumado não é indispensável
conhecer o que de fato é justo, mas sim o que parece justo para
a maioria dos ouvintes, que são os que decidem; nem precisa
saber tampouco o que é bom ou belo, mas apenas o que parece
tal – pois é pela aparência que se consegue persuadir, e não
pela verdade.
SÓCRATES: – Não se deve desdenhar, caro Fedro, da
palavra hábil, mas antes refletir no que ela significa. O que
acabas de dizer merece toda a nossa atenção.
FEDRO: – Tens razão.
SÓCRATES: – Examinemos, pois, essa afirmação.
FEDRO: – Sim.
SÓCRATES: – Imagina que eu procuro persuadir-te a
comprar um cavalo para defender-te dos inimigos, mas nenhum
de nós sabe o que seja um cavalo; eu, porém, descobri
por acaso uma coisa: “Para Fedro, o cavalo é o animal doméstico
que tem as orelhas mais compridas”...
FEDRO: – Isso seria ridículo, querido Sócrates.
SÓCRATES: – Um momento. Ridículo seria se eu tratasse
seriamente de persuadir-te a que escrevesses um panegírico do
burro, chamando-o de cavalo e dizendo que é muitíssimo prático
comprar esse animal para o uso doméstico, bem como para
expedições militares; que ele serve para montaria de batalha,
para transportar bagagens e para vários outros misteres.
FEDRO: – Isso seria ainda ridículo.
SÓCRATES: – Um amigo que se mostra ridículo não é
preferível ao que se revela como perigoso e nocivo?
FEDRO: – Não há dúvida.
SÓCRATES: – Quando um orador, ignorando a natureza
do bem e do mal, encontra os seus concidadãos na mesma
ignorância e os persuade, não a tomar a sombra de um burro
por um cavalo, mas o mal pelo bem; quando, conhecedor dos
preconceitos da multidão, ele a impele para o mau caminho,
– nesses casos, a teu ver, que frutos a retórica poderá recolher
daquilo que ela semeou?
FEDRO: – Não pode ser muito bom fruto.
SÓCRATES: – Mas vejamos, meu caro: não nos teremos
excedido em nossas censuras contra a arte retórica? Pode suceder
que ela responda: “que estais a tagarelar, homens ridículos?
Eu não obrigo ninguém – dirá ela – que ignore a
verdade a aprender a falar. Mas quem ouve o meu conselho
tratará de adquirir primeiro esses conhecimentos acerca da
verdade para, depois, se dedicar a mim. Mas uma coisa posso
afirmar com orgulho: sem as minhas lições a posse da verdade
de nada servirá para engendrar a persuasão”.
FEDRO: – E não teria ela razão dizendo isso?
SÓCRATES: – Reconheço que sim, se os argumentos usuais
provarem que de fato a retórica é uma arte; mas, se não me
engano, tenho ouvido algumas pessoas atacá-la e provar que
ela não é isso, mas sim um negócio que nada tem que ver
com a arte. O lacônio declara: “não existe arte retórica propriamente
dita sem o conhecimento da verdade, nem haverá
jamais tal coisa”.


(Platão. Diálogos. Porto Alegre: Editora Globo, 1962.)

... que frutos a retórica poderá recolher daquilo que ela semeou?

Esta passagem apresenta conformação alegórica, em virtude do sentido figurado com que são empregadas as palavras frutosrecolher e semeou. Aponte, entre as alternativas a seguir, aquela que contém, na ordem adequada, palavras que, sem perda relevante do sentido da frase, evitam a conformação alegórica:



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