1. Havia naquele cemitério uma sepultura em
2. torno .......... a imaginação popular tecera
3. lendas. Ficava ao lado da capela, perto dos
4. grandes jazigos, e consistia numa lápide
5. cinzenta, com a inscrição já .......... apagada
6. por baixo duma cruz em alto-relevo. Seus
7. devotos acreditavam que a alma cujo corpo
8. ali jazia tinha o dom de obrar milagres como
9. os de Santo Antônio. Floriano leu a inscrição:
10. Antônia Weber - Toni - 1895-1915. Talvez ali
11. estivesse o ponto de partida de seu próximo
12. romance...
13. Um jovem novelista visita o cemitério de
14. sua terra e fica particularmente interessado
15. numa sepultura singela a que a superstição
16. popular atribui poderes milagrosos. Vem-lhe
17. então o desejo de, através da magia da
18. ficção, trazer de volta à vida aquela morta
19. obscura. Sai à procura de habitantes mais
20. antigos e a eles pergunta: "Quem foi Antônia
21. Weber?" Alguns nada sabem. Outros contam
22. o pouco de que se lembram. Um teuto-
23. brasileiro sessentão (Floriano já começava a
24. visualizar as personagens, a inventar a
25. intriga), ao ouvir o nome da defunta, fica
26. perturbado e fecha-se num mutismo
27. ressentido. "Aqui há drama", diz o escritor
28. para si próprio. E conclui: "Este homem talvez
29. tenha amado Antônia Weber...". Ao cabo de
30. várias tentativas, consegue arrancar dele uma
31. história fragmentada, cheia de reticências
32. que, entretanto, o novelista vai preenchendo
33. com trechos de depoimentos de terceiros. Por
34. fim, de posse de várias peças do quebra-
35. cabeça, põe-se a armá-lo e o resultado é o
36. romance duma tal Antônia Weber, natural de
37. Hannover e que emigrou com os pais para o
38. Brasil e estabeleceu-se em Santa Fé, onde...
39. Mas qual! - exclamou Floriano, parando à
40. sombra dum plátano e passando o lenço pela
41. testa úmida. Ia cair de novo nos alçapões que
42. seu temperamento lhe armava. Os críticos
43. não negavam mérito a seus romances, mas
44. afirmavam que em suas histórias .......... o
45. cheiro do suor humano e da terra: achavam
46. que, quanto à forma, eram tecnicamente bem
47. escritas; quanto ao conteúdo, porém, tendiam
48. mais para o artifício que para a arte, fugindo
49. sempre ao drama essencial. Pouco lhe
50. importaria o que outros pensassem se ele
51. próprio não estivesse de acordo com essas
52. restrições. Chegara à conclusão de que,
53. embora a perícia não devesse ser
54. menosprezada, para fazer bom vinho era
55. necessário antes de mais nada ter uvas, e
56. uvas de boa qualidade. No caso do romance a
57. uva era o tema - o tema legítimo, isto é, algo
58. que o autor pelo menos tivesse sentido, se
59. não propriamente vivido.
Adaptado de: VERÍSSIMO, Erico. O tempo e o vento: o retrato. v. 2. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 331-333.
Considere as propostas de reescrita abaixo para o seguinte trecho adaptado do texto (l. 52-56).
Chegara à conclusão de que, embora a perícia não devesse ser menosprezada, para fazer bom vinho era necessário antes de mais nada ter uvas de boa qualidade.
Quais propostas são gramaticalmente corretas e preservam o sentido do trecho original?