Questão 11

Questão 11 de Português da prova UFRGS/2017

Avaliação:



Instruções: As questões de 10 a 17 estão

relacionadas ao texto abaixo.

1. Não faz muito que temos esta nova TV

2. com controle remoto, mas devo dizer que se

3. trata agora de um instrumento sem o qual eu

4. não saberia viver. Passo os dias sentado na

5. velha poltrona, mudando de um canal para o

6. outro – uma tarefa que antes exigia certa

7. movimentação, mas que agora ficou muito

8. fácil. Estou num canal, não gosto – zap, mudo

9. para outro. Eu gostaria de ganhar em dólar

10. num mês o número de vezes que você troca

11. de canal em uma hora, diz minha mãe. Trata-

12. se de uma pretensão fantasiosa, mas pelo

13. menos indica disposição para o humor,

14. admirável nessa mulher.

15. Sofre minha mãe. Sempre sofreu: infância

16. carente, pai cruel, etc. Mas o seu sofrimento

17. aumentou muito quando meu pai a deixou. Já

18. faz tempo; foi logo depois que eu nasci, e

19. estou agora com treze anos. Uma idade em

20. que se vê muita televisão, e em que se muda

21. de canal constantemente, ainda que minha

22. mãe ache isso um absurdo. Da tela, uma

23. moça sorridente pergunta se o caro

24. telespectador já conhece certo novo sabão

25. em pó. Não conheço nem quero conhecer, de

26. modo que – zap – mudo de canal. ―Não me

27. abandone, Mariana, não me abandone!‖.

28. Abandono, sim. Não tenho o menor remorso,

29. e agora é um desenho, que eu já vi duzentas

30. vezes, e – zap – um homem falando. Um

31. homem, abraçado ........ guitarra elétrica, fala

32. ........ uma entrevistadora. É um roqueiro. É

33. meio velho, tem cabelos grisalhos, rugas,

34. falta-lhe um dente. É o meu pai.

35. É sobre mim que ele fala. Você tem um

36. filho, não tem?, pergunta a apresentadora, e

37. ele, meio constrangido – situação pouco

38. admissível para um roqueiro de verdade –, diz

39. que sim, que tem um filho só que não vê há

40. muito tempo. Hesita um pouco e acrescenta:

41. você sabe, eu tinha que fazer uma opção, era

42. a família ou o rock. A entrevistadora, porém,

43. insiste (é chata, ela): mas o seu filho gosta de

44. rock? Que você saiba, seu filho gosta de rock?

45. Ele se mexe na cadeira; o microfone,

46. preso ........ desbotada camisa, roça-lhe o

47. peito, produzindo um desagradável e bem

48. audível rascar. Sua angústia é compreensível;

49. aí está, num programa local e de baixíssima

50. audiência – e ainda tem de passar pelo

51. vexame de uma pergunta que o embaraça e à

52. qual não sabe responder. E então ele me

53. olha. Vocês dirão que não, que é para a

54. câmera que ele olha; aparentemente é isso;

55. mas na realidade é a mim que ele olha, sabe

56. que, em algum lugar, diante de uma tevê,

57. estou a fitar seu rosto atormentado, as

58. lágrimas me correndo pelo rosto; e no meu

59. olhar ele procura a resposta ........ pergunta

60. da apresentadora: você gosta de rock? Você

61. gosta de mim? Você me perdoa? – mas aí

62. comete um engano mortal: insensivelmente,

63. automaticamente, seus dedos começam a

64. dedilhar as cordas da guitarra, é o vício do

65. velho roqueiro. Seu rosto se ilumina e ele vai

66. dizer que sim, que seu filho ama o rock tanto

67. quanto ele, mas nesse momento – zap –

68. aciono o controle remoto e ele some. Em seu

69. lugar, uma bela e sorridente jovem que está –

70. à exceção do pequeno relógio que usa no

71. pulso – nua, completamente nua.

Adaptado de: SCLIAR, M. Zap. In: MORICONI, Í.

(Org.) Os cem melhores contos brasileiros.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. p. 547-548.

Assinale a alternativa que expressa, adequadamente, o sentido global do texto.


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