Leia com atenção os textos a seguir.
TEXTO I
A FELICIDADE NA SOCIEDADE DE CONSUMO
MATHEUS ARCARO, 15 DE AGOSTO DE 2016
É fato que, na sociedade contemporânea, felicidade e poder de consumo estão intrinsecamente relacionados. Segundo o filósofo Jean Baudrillard (1929-2007), isso acontece principalmente porque a cultura industrial mostra, em suas produções (novelas, filmes, propagandas, videoclipes), personagens realizados ao adquirirem algum objeto material.
De modo geral, na indústria da cultura, as relações mais subjetivas do indivíduo com outros e consigo mesmo são coisificadas. A insistente busca do corpo perfeito ilustra isso. Não é só na academia de ginástica que se almeja a estética corporal, mas também nas relações amorosas. Busca-se como parceiro, principalmente das relações mais perecíveis (que para muitos são as mais importantes), quem tem o corpo de certa forma enquadrado nos padrões de beleza da cultura industrializada.
Uma das grandes características da sociedade de consumo é a diversão. Theodor Adorno, na obra Dialética do Esclarecimento, afirma: “Divertir-se significa estar de acordo. Significa que não devemos pensar, que devemos esquecer a dor, mesmo onde ela se mostra. Na base do divertimento planta-se a impotência”. Muitas pessoas só conseguem encontrar momentos de felicidade em festas, passeios, novelas, filmes, músicas, entorpecentes. Ou seja: só há felicidade na fuga da vida “estressante”, conflituosa e traumatizante. Trabalha-se cinco dias da semana (às vezes seis) para se ter condições de desfrutar os finais de semana. E quanto mais se desfruta, mais viciante pode ser este processo catártico. Evidentemente não se trata de uma crítica à diversão, mas uma análise dos momentos massacrantes de não diversão. E de como a diversão pode ser usada como “anestésico” de uma vida condicionada pelo capital.
Quem consome acreditando que adquire felicidade pode não a encontrar e, assim, cair num vazio que só um novo consumo resolve. Deste modo, há uma associação necessária entre a realização da existência humana e possuir objetos e desfrutar de alguns serviços.
Como se consegue esta miraculosa associação de valores que, por vezes, são contraditórios? Como se convence que a felicidade está em fugir da vida? Que o critério das relações sexuais é o consumo do corpo perfeito? Que a realização plena está no consumo de bens materiais? Baudrillard é enfático: “a publicidade constitui um dos pontos estratégicos de semelhante processo”. A publicidade realiza uma relação sutil entre consumo, prazer e felicidade. Os publicitários não mentem, mas realizam relações possíveis de acontecer somente na ficção. Por exemplo: bebendo a cerveja X, você estará acompanhado de lindas mulheres (bebida associada ao prazer sexual); comprando celular Y você ficará por dentro da moda tecnológica (aparelho associado à inclusão social) e assim por diante.
A mágica associação entre prazer, felicidade e consumo procura transformar novidades tecnológicas em algo indispensável para a vida das pessoas. Como fazer do liquidificador um objeto de primeira necessidade em quase todas as cozinhas do mundo? Como vender uma tecnologia como algo indispensável para a vida de quem nunca a possuiu? Este é o jogo de sedução da cultura industrial: retirar do consumidor quase toda sua autonomia como sujeito pensante, ao mesmo tempo que o induz a acreditar que é livre para escolher as inúmeras opções do mercado. A incessante decepção de encontrar a felicidade no consumo leva a indústria a sempre produzir lançamentos para trocar a insatisfação por uma nova necessidade.
Na cultura industrial, pensar muito não é a regra. Por vezes, quanto menos intelectualizado o consumidor, mais fácil seu convencimento. Nesse sentido, muitas vezes conhecimento é sinônimo de enciclopedismo. Tudo se responde, nada se explica, como nos programas de tevê e rádio de perguntas e resposta, nos softwares de computadores pessoais e em grande parte dos vestibulares.
Mas esta felicidade-mercadoria é ilusória. Uma ilustração disso está na pesquisa realizada em 2003 pela New Economic Fundation. Com o objetivo de medir o grau de felicidade das pessoas, o instituto criou o Índice Planeta Feliz. No total, 178 países se classificaram pelos seguintes critérios: comparação entre a expectativa de vida, sentimento de alegria e quantidade de recursos naturais consumidos no país. A surpresa: os primeiros colocados foram países latino-americanos que costumam povoar as últimas posições de qualquer lista econômica. O primeiro lugar ficou com o desconhecido Vanuatu, um arquipélago no Oceano Pacífico, que vive de pesca e agricultura. Os países mais ricos do mundo, como USA e França, ocuparam posições não muito honrosas. O primeiro ficou com o 150º lugar. O segundo, na 129º posição.
Fonte: http://www.revistalinguadetrapo.com.br/a-felicidade-na-sociedade-de-consumo-por-matheus-arcaro/
TEXTO II
O filme "Humano – uma viagem pela vida", dirigido por Yann Arthus-Bertrand, nos faz refletir, entre tantas outras questões, sobre como a felicidade depende das necessidades de cada ser humano. No documentário, diversas pessoas são entrevistadas e convidadas a falar sobre o que têm vontade. Confira a seguir a entrevista com a brasileira Maria, que narra um pouco da sua vida: https://www.youtube.com/watch?v=Fb_Z-Ty1Eh4
TEXTO III
De acordo com Antonio Carlos Olivieri, a felicidade sempre foi um tema muito discutido na filosofia por estar relacionada às reflexões sobre ética, desenvolvidas na Grécia Antiga. Apenas com Immanuel Kant, filósofo prussiano, a felicidade é separada da Ética, por estar no âmbito do prazer e do desejo. Contudo, é nessa mesma época de Kant que a felicidade ganha destaque no pensamento político e a sua busca passa a ser considerada um direito do homem, conforme consta na Constituição dos Estados Unidos da América, de 1787.
Adaptado de: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/filosofia-e-felicidade-o-que-e-ser-feliz-segundo-os-grandes-filosofos-do-passado-e-do-presente.htm
A partir dos textos motivadores e dos conhecimentos que você construiu ao longo de sua formação, escreva um texto dissertativo-argumentativo, em modalidade escrita formal da língua portuguesa, que responda a seguinte questão: "Do que depende nossa felicidade?". Mobilize conhecimentos de diferentes áreas para escrever sua redação. Lembre-se também de que você, como cidadão, precisa propor soluções para a discussão desenvolvida.
Comentário
Na contemporaneidade, a ideia de felicidade está muito atrelada à necessidade de consumir, o que faz com que os sujeitos fiquem cada vez mais dependentes do capital. O documentário Humano – uma viagem pela vida vai na contramão desse pensamento e propõe a reflexão sobre a vida de cada uma das pessoas entrevistadas que contam suas histórias. Dessa forma, incentiva-se o aluno a pensar sobre o que necessitamos para ser felizes. Para ter um bom desempenho, é importante centrar a argumentação na resposta ao questionamento. Outras questões que podem auxiliar no desenvolvimento da proposta são: Em que medida podemos pensar a felicidade como um direito do cidadão? Todas as pessoas possuem o essencial de que necessitamos para viver bem? O aluno pode utilizar exemplos e/ou valer-se das ideias de diferentes pensadores para desenvolver seu ponto de vista. É necessário lembrar-se de elaborar uma proposta de intervenção que esteja de acordo com o argumento apresentado.
Embora a questão suscite a discussão acerca do que é a felicidade, textos que tratem apenas desse assunto, sem mencionar o que necessitamos para ser felizes, terão suas notas prejudicadas.